Dissertação - Parte II

II - O LUGAR DA PREGAÇÃO NA IGREJA CONTEMPORÂNEA

                No desejo de traçar um panorama descritivo da pregação na Igreja deste final de século, valemo-nos da visão de autores como H. W. Robins, que acredita na desvalorização da pregação nestes dias. Para ele a imagem do pregador não é a mesma de décadas anteriores, sendo agora não mais considerado como líder intelectual nem espiritual. Ele arrisca-se a um desafio: “peça ao homem do banco da igreja que descreva o ministro, e a descrição talvez não será lisonjeira.” Este mesmo autor  acredita que no geral a congregação vê o pastor, na atualidade, na forma de um “composto manso”:

      Escoteiro congenial, sempre prestativo, sempre pronto para ajudar: como querido 
     
das senhoras de idade, e como suficientemente reservado com as jovens; como a  
     
imagem paternal para os mais jovens, e companheiro para os homens solitários; 
     
como o cordial recepcionista afável nos chás e nos almoços dos clubes cívicos.

                Ao passo que apresenta este descrição geral do pregador contemporâneo, Robins decreta: “Se isto relata a realidade, mesmo que as pessoas gostem do pregador, certamente não irão respeitá-lo”. Esta crise no ministério da pregação ocorre justamente num mundo onde, conforme o mesmo autor, os meios de comunicação de massa “nos bombardeiam com cem mil mensagens por dia “. 

              Robins lembra que tanto a televisão como o rádio, apresentam “mascates” que entregam uma “palavra do patrocinador com toda a sinceridade de um evangelista”.  Dentro deste contexto, talvez o pregador dê a impressão de ser mais uma pessoa mercenária que “faz truques de palco com as doutrinas da vida e da morte”.

              Seguindo este raciocínio, a consequência destes fatos é que o próprio pregador moderno estaria tentado a buscar “novidades” que pudessem satisfazer àquilo que a pregação “tradicional” não consegue.

      O homem no púlpito se sente furtado de uma mensagem autoritativa. Boa parte da  
     
teologia moderna lhe oferece pouco mais do que palpites santificados, e suspeita  
     
que os sofisticados nos bancos das igrejas têm mais fé nos textos da ciência que nos  
     
textos da pregação. Para alguns pregadores, portanto, a última moda na comunicação  
     
fica sendo mais estimulante do que a mensagem. (...) Sem  dúvida,  as  técnicas  
     
modernas podem realçar a comunicação, mas, por outro lado, podem substituir a  
     
mensagem - o surpreendente e o incomum podem ser máscaras para um vácuo.

             Sem dúvida as colocações acima apontam para um grande conflito que o pregador moderno enfrenta quando depara-se com a crescente globalização cultural, com a força dos meios de comunicação de massa, com o ritmo frenético das mudanças nos nossos dias, com o avanço tecnológico. O dilema do pregador contemporâneo pode ser expresso na seguinte pergunta: Como ter contemporaneidade sem perder a profundidade e a Verdade da mensagem?

              Num artigo publicado em 1985, Merval Rosa ressalta sua visão da pregação na atualidade em nosso país. Para ele a pregação como um todo deixa muito a desejar pela omissão: “estamos certos no que dizemos, falhamos, porém, no que deixamos de dizer”.  Na sua opinião, a pregação deve ser impactante, capaz de demonstrar graça e poder redentivo de Deus,  o que, segundo ele,  não acontece.

     Acontece, porém, que em nossos dias a pregação do Evangelho se apresenta tímida,  
    
quase pedindo licença para dizer, quase pedindo desculpas, com medo de ofender as      
    
estruturas do poder expressas nas mais variadas formas de organizações sociais.  
     
Nossa pregação está se tornando, à semelhança da psicoterapia tradicional, um  
    
produto de consumo da classe média. Nela não há quase nada de proclamação  
    
inquietante da Palavra de Deus e seu elemento de confrontação do homem e das   
    
iniquidades das estruturas sociais. Ela é mais um elemento de preservação de um  
    
“status quo” do que propriamente uma força transformadora de revitalização da  
    
condição humana. Ela não incomoda a ninguém...

            Neste raciocínio, o grande problema da pregação de hoje é a falta de relevância. O cerne da crise não reside na forma, mas sim no conteúdo da pregação. Na medida em que os pregadores se tornam incompetentes primeiro para fazerem uma leitura verdadeira da realidade existencial dos ouvintes, são compelidos a falharem com uma pregação imprópria, descontextualizada, descomprometida com o tempo em que vivemos.

            Os resultados desta pregação que não conforta nem incomoda ninguém bem podem ser notados. O primeiro deles é o próprio desprestígio da pregação junto às Igrejas.

2.1  O Crescente Desprestígio da Pregação
2.2  A Crise de Identidade da Igreja
2.3  A Apostasia dos Membros da Igreja
2.4  A Procura de Substitutos à Pregação