2.3   A Apostasia dos Membros da Igreja

              O Pr. João Falcão Sobrinho, num artigo propondo uma forma de atuação da Igreja para com seus excluídos estima que para cada cem batistas brasileiros há  quarenta e dois excluídos. Ele dá o exemplo de um bairro no Rio de Janeiro onde foi feito um levantamento e constatou-se que ali haviam mais batistas excluídos do que membros da Igreja local. Segundo o manual de “pré-evangelização” da Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, em nossas Igrejas, em média, batizamos uma pessoa para cada dez que “se convertem” e chegamos a excluir 50% dos que batizamos.

              Até que ponto esta apostasia tem a ver com a pregação que se faz na Igreja? Em 1986, num Congresso Nacional de Evangelização e Missões,  ocorrido no Rio de Janeiro, o Pr. Irland Pereira de Azevedo apresentou um estudo no qual alistou alguns dos motivos pelos quais igrejas estão morrendo, dentre estes a pretensão de trazer os homens à Igreja antes de lhes falar de Cristo.  

              Outro motivo apontado pelo ilustre pregador foi “a pregação de um evangelho barato, antropocêntrico e deslembrado da soberania e Senhorio de Cristo”. Isto posto, é inegável que dentre outros fatores, a pregação é estreitamente relacionada ao êxodo que boa parte dos membros empreende das igrejas.

              Igrejas com bancos vazios não são, infelizmente, exceções nos nossos dias.  Uma explicação para a quantidade de bancos vazios numa Igreja é encontrada no livro de Blackwood, onde transcreve um estudo do inglês Charles Morgan.

      O púlpito deveria alimentar as ovelhas e não apenas “divertir a assistência”. O que
     
o  ausente exige e deixa continuamente de achar, é algo que o interesse e desafie na
     
Igreja.   O que mais  o desaponta  são os  sermões - não como muitos pastores
     
modestamente  supõem, por serem longos demais ou porque ofendem o ouvinte,
     
mas  pela razão oposta, por serem mesquinhos, por não irem bem ao fundo da
     
questão e por serem conciliadores e tímidos demais... Quando o sermão começa,
     
o que deseja ouvir... é o pastor que, sem temor nem compromisso, relacione o seu
     
assunto, qualquer que seja, com as verdades mais profundas do Cristianismo.                             

              Desta forma, parece-nos inegável que dentre outras consequências, a apostasia reflete o lugar descaracterizado que a pregação ocupa atualmente em nossas Igrejas e confirma a tese de que bancos vazios refletem púlpitos descontextualizados. Vale lembrar ainda que boa parte dos “apóstatas” termina por vincular-se a outras denominações, geralmente neo-pentecostais.

              O abandono da Igreja é visto por Martha Saint de Berberián como, em muitos casos, decorrência da “desnutrição espiritual” a que os membros ficam expostos quando seus pastores não são eficientes no suprimento do “alimento”. Esta autora expõe a necessidade de o pregador estar consciente da variedade de necessidades que envolve uma congregação para então dedicar-se a supri-la com “uma dieta balanceada”  por sermões com temas e objetivos variados, práticos e que toquem as vidas das pessoas com a Verdade de Deus.

              Samuel Escobar, professor de Missiologia e Estudos Hispânicos no Eastern Baptist Theological Seminary, em Filadélfia, EUA, batista boliviano e ex-secretário executivo da Aliança Bíblica Universitária, escreveu um artigo em que respondeu à questão do porque do crescimento dos protestantes na América Latina. Segundo fontes citadas pelo autor, os evangélicos chegam a 12,5% da população do continente. Não é difícil perceber que tal índice de crescimento espelha principalmente a expansão das Igrejas Pentecostais e neo-Pentecostais nestas últimas décadas.

               A mobilização dos leigos e a ativa participação popular nas tarefas da igreja, marcas características do pentecostalismo, são apontadas por Escobar. Outra característica marcante dos pentecostais é a adentração que tais Igrejas têm junto à população marginalizada com uma proposta de auxílio às suas carências, inclusive materiais que, para o autor, também  explica este crescimento. Eles crescem porque “têm conseguido atingir melhor os pobres emocionalmente e consolá-los”.

              Sendo assim, deduzimos que grande parte da migração dos membros para denominações pentecostais e neo-pentecostais explica-se pelo tipo de mensagem que recebem ali. Não discutimos a legitimidade da mensagem pentecostal, no entanto, isto nos alerta para o fato de que esta mudança é também consequência da insensibilidade dos nossos púlpitos para com essas mesmas necessidades.

              Se os médicos de um hospital que tem todos os mecanismos de pesquisa e tratamento das enfermidades da população  não se dedicam a utilizar os melhores tratamentos para com os enfermos, estes desistem e vão em busca de outras alternativas. Nossos pregadores não têm identificado corretamente as doenças do povo de nossas Igrejas e, muitas vezes, lhes têm designado “medicamentos” inócuos.

2.1  O Crescente Desprestígio da Pregação
2.2  A Crise de Identidade da Igreja
2.3  A Apostasia dos Membros da Igreja
2.4  A Procura de Substitutos à Pregação