2.1   O crescente Desprestígio da Pregação

          A observação de que neste século, mais uma vez, a Igreja está marcada com o declínio da pregação, a exemplo do que houve no período pós-apostólico,  é demonstrada por Lloyd-Jones que, mesmo tendo algumas posturas “radicais”, defende a pregação como sendo a principal tarefa do pregador e a razão maior do seu chamado. 

              No final da década de 60 Lloyd-Jones já denunciava algumas das tendências de mudanças na ordem de culto geralmente pretendidas pelas igrejas, chamando-as de “elementos de entretenimento no culto”. Para ele, na medida em que a pregação perdeu sua importância, foi necessário dar ênfase a outras partes do culto. Em sua análise, o maior culpado pelo desprestígio da pregação é o próprio púlpito; toda vez que o púlpito está correto e a pregação é autêntica, isso atrai e arrebanha o povo para ouvir .

              Um famoso ministro norte americano, Warrem Wiersbe, destacado pelo ministério radiofônico que desenvolve há décadas e por alguns livros, escreveu uma obra traduzida para o português com o título “A Crise de Integridade”. Nele, o autor reconhece o desprestígio da pregação no meio evangélico de seu país e conclui: “o tipo errado de pregadores, compelido por motivos errados, criou o tipo errado de cristãos mediante a pregação da mensagem errada.”

              Desta forma, a pregação que é tão prioritária para a vida da Igreja tem, nos próprios pregadores, os principais responsáveis pelo seu desprestígio. Vale a pena lembrar a definição da pregação segundo Blackwood: “a verdade de Deus proclamada por uma personalidade escolhida com o fim de satisfazer as necessidades humanas”. Ora, podemos concluir que o fato da pregação estar desprestigiada se deve, principalmente, à incapacidade dos púlpitos em “satisfazer” as necessidades humanas.

              Aproveitando a definição acima vale ressaltar que o que faz a pregação é a veracidade bíblica exposta fielmente e aplicada relevantemente ao homem contemporâneo. Parece-nos que nos dias atuais nossos pregadores cumprem a primeira das condições e desprezam a segunda. 

               Estas mesmas duas condições podem ser encontradas na definição de sermão de  John H. Jowett. Para ele o sermão tem  que ser uma proclamação da verdade “como vitalmente relacionada com os homens e mulheres que vivem”. Ele diz que um sermão precisa tocar a vida onde o toque seja significativo, “tanto nas suas crises como nas suas corriqueirices”. Completa ainda que o sermão precisa ser  “aquela verdade que viaja em companhia dos homens morro acima e morro abaixo, ou na planície monótona”.

              É justamente por isso que a pregação é tão importante para os ouvintes. Há uma “fome” deste toque especial patrocinado pela Palavra pregada. Na medida em que esta pregação é ineficiente em suprir os ouvintes desta necessidade, deixa de ser prestigiada.

              Este desprestígio é observado também por  James Crane. Para ele isto se deve, principalmente,  à inaptidão em estabelecer objetivos realmente relevantes para a pregação. Crane lembra que a pregação só tem sentido quando imbuída de um propósito persuasivo. Argumentando acerca disso, ele cita G. Campbell Morgan:

      Toda pregação tem um só fim, a saber, o de tomar cativa a cidadela central da alma  
     
humana, ou seja, a vontade.  O intelecto e as emoções constituem vias de aproximação  
     
que devemos utilizar. Porém o que temos de recordar sempre é que não temos atingido  
     
o verdadeiro fim da pregação enquanto não for atingida a vontade, constrangendo-a a  
      fazer sua escolha de acordo com a verdade que proclamamos.

                Sem este caráter persuasivo a pregação perde sua eficácia e, consequentemente, seu prestígio junto à própria Igreja.  E qual o resultado para a Igreja deste estágio em que a pregação se encontra? A própria Bíblia, no livro de Provérbios nos mostra o resultado natural da ausência da legítima e eficiente pregação: “Não havendo profecia, o povo se corrompe”.

2.1  O Crescente Desprestígio da Pregação
2.2  A Crise de Identidade da Igreja
2.3  A Apostasia dos Membros da Igreja
2.4  A Procura de Substitutos à Pregação